O “Livro do Armeiro-Mor”, escrito por João do Cró (ou João du Cros), é um códice iluminado que representa um marco importante na história da heráldica portuguesa. Encomendado por D. Manuel I, este documento não apenas fixou os brasões de diversas nobrezas, mas também estabeleceu um cânon em uma época marcada por arbitrariedades no uso de armas.
Estrutura da Obra Armeiro Mor
O livro é organizado em vários capítulos, cada um dedicado a diferentes aspectos da heráldica. Entre os temas abordados estão os Nove da Fama, os estados da Europa, Ásia e África, a eleição do imperador da Alemanha, a sagração do rei da França, e uma extensa seção sobre a nobreza portuguesa.
1. Os Nove da Fama
O primeiro capítulo destaca as armas de heróis lendários e históricos, como Josué, David, e Júlio César, mostrando a reverência à história e à mitologia que permeiam a cultura europeia.
2. Os Estados da Europa, Ásia e África
Neste capítulo, são apresentadas as armas de 49 estados, desde potências europeias até reinos menos conhecidos, refletindo a diversidade política da época. A inclusão de brasões de países como Babilônia, Chipre e Marrocos exemplifica a riqueza do contexto global.
3. A Eleição do Imperador da Alemanha
Este capítulo discorre sobre o processo de eleição do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, mencionando os sete príncipes-eleitores e suas respectivas armas, evidenciando a complexidade política da Europa medieval.
4. A Sagração do Rei da França
Aqui, o autor descreve o ritual de sagração dos reis da França, incluindo os doze pares, ressaltando a importância dos rituais na legitimação do poder monárquico.
5. A Nobreza de Portugal
O corpo principal do livro é dedicado à nobreza portuguesa, com 287 brasões, começando pelas armas de D. João II. Essa seção não apenas documenta as famílias nobres, mas também serve como um registro histórico das relações de poder e status na sociedade portuguesa.
Importância Histórica
O “Livro do Armeiro-Mor” é considerado um documento essencial para o estudo da heráldica e da história social de Portugal. Através de suas ilustrações e descrições, ele preserva informações valiosas sobre a nobreza, suas relações e a identidade nacional.
Legado e Conservação
O livro pertenceu à livraria particular do rei D. Carlos e, segundo D. António Caetano de Sousa, as iluminuras foram atribuídas ao mestre Arryet. Atualmente, é um documento sujeito a autorização para consulta, guardado na Casa Real, e reproduzido em slides na Torre do Tombo.
Conclusão
O “Livro do Armeiro-Mor” não é apenas um compêndio de brasões; é um testemunho da riqueza cultural e histórica de Portugal. Sua análise revela não apenas a heráldica, mas também os valores e a organização social de uma época em transformação. Este códice, com sua encadernação de veludo carmesim, permanece como uma joia inestimável do patrimônio nacional.
Para os interessados em história, heráldica ou cultura portuguesa, esta obra é uma leitura imprescindível que oferece uma visão profunda da identidade nacional ao longo dos séculos.
